Uma Missão Diferente Parte 1


Essa semana, na quinta-feira (13) passei por uma experiência única.

Após 9 horas de trabalho, entrei no ônibus urbano para ir para casa e estava exausta, pensando que quando chegasse em casa teria que dar atenção para minha filha de dois anos, que está com uma gripe terrível, atenção ao marido, janta para fazer e casa para cuidar.

Inclinei minha cabeça no encosto do banco daquele ônibus, e dei um cochilo pois afinal de contas são quase uma hora para chegar em casa.

Agradeci a DEUS pelas bênçãos daquele dia e fechei meus olhos e cochilei. Por volta de uns 20 minutos, acordei e me deparei com uma cena.

Um senhor com aparência de acima de 70 anos, 1m75 cm, careca, magro, cor branca, com bermuda bege e blusa de moleton azul, estava insistindo com o cobrador que queria descer na Rua Delfino Cintra.

O cobrador muito irritado e grosseiro insistia que já tinha dito que ele embarcou na Rua Delfino Cintra e que tinha dado uma volta inteira naquele ônibus e que quando chegasse no ponto daquela rua iria avisá-lo para descer.

O velho sentou-se. E logo meu pai veio na mente, vi o quanto aquele homem parecia com meu pai. Fiquei pensando na minha impossibilidade de ajudar a cuidar do meu pai que mora a 600 km de mim, que está muito debilitado em virtude de dois AVC´s, aquilo doeu no meu coração.

O ônibus chegou no ponto da Rua Delfino Cintra, que parou e o cobrador e o motorista praticamente falaram com aquele senhor de maneira áspera para que ele descesse, e ele exclamou: - Mas eu estou perdido!

Foi então que me deparei com uma situação, aquele senhor deveria ter uma doença de Alzheimer.

Todos no ônibus ficaram resmungando: - Que absurdo! Como um velho vai andar sozinho se não se lembra aonde mora?

E o cobrador insistiu pois aquele velho não queria descer de medo por estar sozinho e não lembrar aonde mora: - O senhor desce e pergunta para alguém na rua, que alguém pode te ajudar!

Eu olhei aquilo e fiquei pasma, e uma voz gritou dentro de mim: Ninguém vai fazer nada, esse homem tá perdido!

Pensei: Eu vou descer e ajudá-lo, e logo veio a carne boicotar minha ação. "Imagina Carla, você está cansada, tem o vale-transporte contadinho para o mês, vai gastar mais uma passagem?"

E o homem desceu e eu fiquei na inércia física e no turbilhão dos meus pensamentos e gritei comigo mesmo.

Carla, você quer ajudar quem você ama, o seu pai, e não ajuda o próximo que geme do seu lado?

Ajudar quem a gente ama é fácil, mas servir quem não conhecemos, alguém no anonimato que mau sabe seu nome e sua casa, está perdido, é um desafio!

Me levantei em um tiro e pensei, vou ajudar esse homem perdido, isso foi rápido, desci no próximo ponto, ou seja, na próxima parada que o velho desceu, sai correndo para poder alcançá-lo, nesta altura já não lembrava mais que estava exausta, que minha filha estava doente em casa me esperando, meu esposo, a casa para arrumar, somei todas as minhas forças para chegar até aquele homem perdido e corri em direção a ele.

Avistei-o do outro lado da rua, teria que atravessar o farol, e ele já tinha andado um pouco mas observando os números dos estabelecimentos, como se estivesse tentando lembrar aonde era a sua casa.

Consegui alcança-lo e logo fui falando: - Senhor, eu estava naquele ônibus, desci para levá-lo para a sua casa.

Ele: Mas eu não me lembro aonde é minha casa! - Disse-me levantando os braços.

Eu: O Senhor tem algum telefone aí, de um parente, conhece alguém por aqui?

Ele: Só trouxe meu documento.

Pensei, isso não ajuda muito.

Ele: olha, ali é a praça né, preciso ir na Rua Delfino Cintra.

Eu: Nós Estamos na Delfino Cintra! O senhor lembra de algum número de telefone, de seu filho, sua filha? - Nisso eu já estava quase tendo um "tréco" do coração (como diz o mineiro) e pedindo a DEUS direção do que fazer.

Ele colocou a mão no queixo e disse: Não me lembro de nenhum número, mas ali é a praça, então vamos por aqui, eu moro com uma companheira, vamos por aqui, nós vamos encontrar a minha casa.

Apesar de assustado, ele estava otimista na sua escolha de que rumo tomar para encontrar sua casa, interessante. Pensei, só faltou ele fazer aquela brincadeira: "mamãe mandou eu escolher esse daqui" !

E eu pensando com meus botões: DEUS por favor, me dê a solução deste problema!

Não demos mais que 10 passos, e uma senhora com aparência de seus 40 anos de idade, com os braços cruzados parou em nossa direção, com o olhar querendo devora-lo na sua ira e exclamou: - Eu não posso acreditar, estou te procurando desde as 14:30 horas, já fiz de tudo! Já liguei para...

Contei para ela que tinha encontrado-o no ônibus urbano e que dizia que estava perdido.

Ela: Você pegou o ônibus de novo? Obrigada moça!

Virando-se de novo para ele, ela disse: - Olha, eu não vou deixar você vir mais sozinho na praça!

Me deram a mão em despedida, os abençoei e cada um foi para a sua casa.

Agradeci a DEUS pelo bem sucedida missão, foi um alívio! O homem perdido foi achado e voltou para casa.

Pensei na pregação do pastor alguns domingos atrás, que pregou sobre os anjos que visitaram Ló para o levar para fora da cidade que iria ser destruída, e ele ilustrou que algumas pessoas são como anjo em nossas vidas para nos ajudar quando estamos totalmente perdidos.

Agradeci a DEUS por me mandar vários anjos de carne e osso, quando estive em desespero por estar perdida nas minhas mais diversas situações da vida.

Quanto somos hipócritas!

Queremos ser espirituais servindo quem amamos, quem nos conhece, quem nos ama, quem sabe o nosso nome e sobrenome ou até título, no nosso circulo de amizade, familiar e irmãos de igreja.

Queremos servir quem lembra de quem somos. Quem sabe, depois de alguns minutos aquele velho já se esqueceu de quem se ofereceu em levá-lo para casa em paz.

DEUS nos chamou para uma missão que não é impossível: - Servir quem a gente não ama, gente esquecida, gente perdida, gente que precisa, que você pense que não merece, e outros vários motivos não satisfatórios...

Você pode dizer: -Eis-me aqui Senhor, envia-me a mim?

Com certeza, DEUS vai por uma missão em sua mão... porque foi exatamente isso o que aconteceu...

Tudo começou quando eu disse: - Eis-me aqui, Senhor!

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